A noção de tempo e sua construção histórica

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A noção de tempo e sua construção histórica

A nossa noção de tempo é uma construção histórica. Pode não parecer, afinal de contas, uma hora é uma hora, um minuto um minuto um segundo é um segundo e um é dia um dia.

Assim como a morte o tempo uma coisa tão natural que pode parecer estranho pensar que ele tem uma história, mas ele tem. E eu não tô nem falando sobre teoria da relatividade e tudo mais. Não tô falando de um astronauta viajando perto da velocidade da luz, não é nada disso.

Eu tô falando de um tempo muito mais ligado ao dia a dia, muito mais ligado às coisas que a gente faz.

Hoje em dia a gente entende o tempo como uma coisa linear, e que o nosso psicológico tem uma influência muito grande sobre a percepção dessa coisa linear. Ela é dividida em segundos, minutos, dias, horas… Mas como é que as pessoas mediam o tempo quando não tava todo mundo com um relógio na mão ou no bolso?

Bom, o tempo grande (dias, semanas, meses…) era um pouco mais parecido com que a gente tem hoje.

Vários povos tinham calendários com anos de 365 dias e meses de mais ou menos quatro semanas baseadas na lua. Por outro lado, a noção de que os tempos estão mudando e de que cada geração vem com características diferentes, não era muito comum. O que geralmente havia era um conflito entre os mais jovens e os mais velhos, mas não entre cada geração específica.

Mas o tempo das coisas pequenas era muito diferente. Não se media o tempo das coisas pequenas como unidades de medidas como segundos e minutos. Geralmente se media através de referências, por exemplo: quanto tempo demora para você ir até lá e voltar? Demora o tempo de cozinhar um arroz.

Esse tempo menor do dia a dia era medido mais de acordo com a natureza e com as coisas que se fazia, e não atoa uma das unidades de tempo mais usadas na Europa, antes da popularização dos relógios, era o tempo de “dar uma mijada”.

Muita gente tem a impressão de que a chegada da tecnologia do relógio transformou a medida de tempo que as pessoas tem, mas segundo Edward Palmer Thompson, isso não é bem verdade.

Thompson diz que os relógios já existiam há muito tempo, e que o principal motivo para a mudança de paradigma na forma de perceber o tempo acontece por conta da ascensão da burguesia e da revolução industrial.

Com a formação das primeiras sociedades industriai, as camadas mais pobres deixam de ter um laço de servidão e passam a vender o seu trabalho e a vender o seu tempo para os donos das fábricas.

À partir do momento que o dono da fábrica compra o tempo do seu empregado, o controle desse tempo passa a determinar o direito que o empregador tem de exigir do seu empregado. Esse tempo comprado se torna propriedade do comprador.

Então, segundo Thompson, não é a tecnologia dos relógios que vai fazer com que a gente passe a contar e vivenciar o tempo da forma que a gente vive hoje, e sim as mudanças nas estruturas sociais e de trabalho. À partir de certo momento, as horas, os minutos, os segundos eram quantificados e era preciso que as pessoas que estavam acostumados a seguir os ritmos da natureza e dos seus próprios afazeres regulassem os seus corpos e suas práticas para a nova lógica que as fábricas demandavam.

O que eu andei estudando recentemente foram alguns relógios que existiram antes disso tudo acontecer.

Existiam relógios de areia, relógios d’água, mas os mais populares e os meus favoritos eram os relógios de sol.

Normalmente eles ficavam no centro das praças e a sombra que eles projetavam se movia de acordo com q posição do sol. E era assim que olhando para sombra você saberia em que parte do dia você estava. E isso é uma coisa muito doida, porque em vários lugares existia a noção de hora, só que a hora não era uma quantidade fixa de tempo, a hora era um doze avos do tempo entre o sol nascer e o sol se pôr. Mas como nem todos os dias tem a mesma duração, por exemplo um dia de inverno e um dia de verão, então uma hora que era um doze avos desse dia, era uma quantidade de tempo que variava de acordo com a estação do ano.

Mas medir o tempo não era a única função desses relógios. Eles eram também obras de arte. Ele tinham uma função estética e também uma função urbanística, afinal de contas eram nas praças que as pessoas se reuniam, socializavam, faziam negócios e etc…

Mas essa é uma coisa que qualquer pessoa que trabalhe com publicidade sabe. Qualquer lugar para onde as pessoas olhem o tempo todo, é um lugar precioso em termos de comunicação. Muitas pessoas iam até o relógio para ver em que parte do dia elas estavam. Muitos dos construtores de relógios aproveitavam para deixar mensagens escritas para as pessoas que fossem olhar a hora. Essas mensagens geralmente eram reflexões a respeito do tempo. Assim cada pessoa que olhasse para o relógio era confrontada com uma daquelas coisas que a gente já sabe, mas que deveria lembrar mais constantemente.

Essas são algumas traduções de frases que foram encontradas escritas em relógios de sol da roma antiga. As mensagens que os construtores de seus relógios queriam passar para as pessoas que fossem olhar a hora casualmente no dia-a-dia são lembranças de uma outra época com outra concepção de tempo, mas com algumas preocupações que atravessaram os milênios e tem muito em comum com coisas que a gente vive ainda hoje.

O tempo foge como uma sombra

Devote essa hora ao trabalho e a outra para o lazer

Não conte as horas, use-as

As horas passam devagar, os anos passam rápido

Uma dessas horas vai ser a sua última

Todas as horas ferem, a última mata

Nossa última hora é escondida de nós, para que a gente presta atenção em todas

Lembre-se de viver

Mas nem todos eram sérias, algumas eram até cômicas:

Sem sol, silencio-me

Agora é hora de beber

E por último, a minha favorita. Imagina: A pessoa vai até o relógio para ver que horas são, e no relógio diz o seguinte:

É mais tarde do que você imagina

Este texto é uma transcrição do vídeo Temos tempo? do canal do Youtube Antídoto:

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